Enquanto o Brasil amarga 7,7 mortes a cada 100 acidentes (índice 3x maior que a média europeia), países como EUA e Alemanha investem em multimodalidade
Dois acidentes. Doze vidas perdidas. Dezenas de feridos, alguns lutando pela sobrevivência em UTIs. Caminhões de algodão viraram túmulos de metal nas rodovias de Mato Grosso, perto de Nova Mutum e Diamantinho. As cenas são repetidas: destroços, sirenes e famílias despedaçadas. Enquanto isso, o Brasil segue tratando tragédias como "acidentes inevitáveis" — como se mortes fossem pedágio natural do agronegócio.
Ignorar é cumplicidade
Os números são cruéis. Em 2023, o país registrou 67 mil acidentes com caminhões, resultando em 5,2 mil mortes (dados da PRF). Em 2021, um choque entre uma carreta e um ônibus em MG matou 16 pessoas; em 2022, uma colisão no MS ceifou 9 vidas. São histórias que se repetem, com nomes diferentes, mas com a mesma raiz: a dependência do transporte rodoviário para escoar 78% da carga nacional (CNT), sobrecarregando estradas precárias e motoristas exaustos.
O que o mundo nos ensina?
Enquanto o Brasil amarga 7,7 mortes a cada 100 acidentes (índice 3x maior que a média europeia), países como EUA e Alemanha investem em multimodalidade:
Aqui, projetos como a Ferrogrão (MT-GO) emperram há anos, e hidrovias como a Tietê-Paraná operam abaixo do potencial.
Vidas ou lucros?
Enquanto o debate se perde em lobby e inércia, motoristas dormem em cabines apertadas, famílias choram filhos atropelados, e o algodão de MT chega ao porto manchado de sangue. Quantos corpos precisam ser empilhados para que o Brasil acorde? Não há "acidente" quando a negligência é crônica. Há culpa.
PS. - Passamos na hora do acidente em Diamantino, onde o motorista de uma das carretas envolvidas morreu queimado. O caminhão que ele dirigia explodiu. A foto tiramos de dentro do carro que estávamos, em meio a um congestionamento de quilômetros.